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quinta-feira, 26 de maio de 2011

Um texto de Charles Silva*

"Na cama não cabe
a palavra
Cabe o palavrão
Não cabe a hora
cabe o ponteiro
Não cabe o termômetro
Cabe a febre

Na cama não cabe
o combinado
Cabe o improviso
Não cabe o juízo
Cabe a insanidade
Não cabe o silêncio
Cabe o grito

Na cama não cabe
o cansaço
Cabe a convulsão
Não cabe o verso
Cabe o avesso
Não cabe o carinho
Cabe o arranhão

Na cama não cabe
o dedo
Cabe a mão
Não cabe o beijo
Cabe o chupão
Não cabe o paraíso
Cabe o inferno

Porque na cama
Não é o que me cabe
É o que acabe comigo"

*Charles Silva é escritor catarinense.
Esse texto faz parte de sua publicação de 2007.

A morte do amante

Ele morreu.
Ela precisa aceitar e continuar,
chorar e esquecê-lo.

Ela vai sentir sua falta
Vontade de sentir a pele dele na sua novamente
Desejo constante de tê-lo ao seu lado

Mas ela nunca o teve
Ele nunca foi dela
Ele nunca foi aquilo que ela queria.

Mas o cheiro ficou gravado na sua memória,
A beleza tatuada em seu coração.
Serão dias, meses ou muitos anos
até que ele desapareça
totalmente da sua visão

E talvez ela ainda veja, depois disso,
a imagem dele caminhando pela rua,
andando pelo shopping.
É ele, mas ele nunca foi aquele...

Esse que lhe manda mensagens e e-mails não é ele.
Ele morreu.
Ele lhe mandaria flores e iria vê-la.
Esse outro não tem tempo pra isso,
não tem tempo pra ela.
Esse outro tem muitas outras,
mas pouco tempo disponível
para o prazer de vê-la

Ele talvez não sinta prazer em vê-la.
Talvez o cheiro dela nunca tenha sido "aquele".
A pele não é, ela não é.
E ele também não será mais.