A água da banheira de hidromassagem estava quente, mas não o bastante para deixar de agradar sua pele. Ela olhava para ele como quem olhasse para um deus, agradecida pelas bênçãos concedidas e imaginando quantas mais teria ainda naquela noite. Porque já devia ser noite, não conseguia lembrar que horas entraram naquele quarto de motel e muito menos tinha noção de quanto tempo estavam ali, tanto era o que ela já tinha vivido.
Vivia uma vida solitária apesar das muitas pessoas que a consideravam amiga. Gostava da solidão, talvez mais que tudo, mas apreciava também uma boa companhia, como a daquele homem. Casada, sem filhos. Poucos amigos. Alto libido.
Ele era lindo, com todas as boas características que um homem pode ter na opinião dela. Pele morena, olhos numa cor que lembrava jabuticabas amadurecendo. Mãos grandes e sensuais. Mas ela gostava de muitas outras coisas além disso.
Amava as artes em todas as suas formas, cores e sons. Inclusive nos sons que o homem alto à sua frente emitia. Gostava de dançar, mas não o bastante para faze-lo em público. Gostava de patinar, mas abandonara esse gosto após seus patins pedirem férias permanentes há 6 anos. Agora preferia somente ver.
Estava vendo aquele homem viril sair da banheira agora. Uma pena, porque a água estava ótima. Mas sabia, não tinham todo tempo do mundo, ele tinha que voltar para casa, e ela também.
Gostava da vida que tinha em casa. Seus melhores momentos foram os que vivera com o namorado que, pela situação, devia ser chamado de esposo. Mas ela não gostava dessa palavra, achava-a muito formal, muito prisioneira. Ela gostava de liberdade. Eram muito amigos, ela e o namorado, tanto que às vezes se perguntava se eram mais amigos ou mais namorados. Ele era muito carinhoso sempre, continuamente a tocava, mas raramente lhe fazia amor. Ela sentia falta de se sentir mais desejada, tal como estava se sentindo agora. Não era feia, tinha o corpo muito próximo ao que chamavam de ampulheta, bastante curvilíneo, loira, estava usando cabelos até os ombros, olhos azuis. Os homens mexiam com ela na rua, mas o namorado demonstrava pouco apetite sexual por ela, mesmo que constantemente a elogiava.
O moreno de cabelos levemente crescidos e pele suave estava falando algo que ela demorou um pouco para entender. Era difícil pensar sentindo aquele prazer todo pelo seu corpo, e esses pensamentos todos a confundiam. Estava saindo com um homem casado e isso sempre fizera parte das atitudes que ela criticava nas outras meninas. Jurara para ela mesma há pouco tempo atrás que nunca admitira homens casados em sua vida sexual, porque com o namorado ela se entendia, eram diferentes, mas não podia sentir responsabilidade pelo desaparecimento temporário de um homem de seu lar.
Mas ela também mudara muito em pouco tempo. O que antes era ouro agora virara algo de pouco valor em sua vida. Pelo menos naquele momento se importava mais com seu próprio prazer que com a felicidade alheia.
E seu prazer foi grande naquela noite. O homem pouco conhecido que trouxera ela ali sabia bem como agrada-la. Sabia que era uma menina-mulher exigente e percorreu todo caminho necessário para conquista-la. Muitas conversas de mensagens instantâneas dera a ele o conhecimento necessário do que ela gostava. E ele sabia que não era puro sexo que ela procurava. Uma conversa específica há menos de um mês aguçou nela a vontade de conhece-lo. Discutiram idéias, conceitos para uma sociedade melhor. Seus pontos de vista eram diferentes, mas ela gostava de desafios. Ele já lhe proporcionara pelo menos dois orgasmos naquela noite e, ela sabia, ainda estavam no meio do caminho.
Ele lhe alcançou uma toalha e uma garrafa de água. O nome dele ela desconhecia, mas estava pouco interessada nisso agora. Estavam se encaminhando para a cama novamente e as lembranças dos lábios macios dele na vulva dela bastavam para que ela voltasse a sentir-se molhada com o próprio muco.
Demorou 24 anos para ela descobrir o que era amor próprio e isso talvez tivesse acontecido naquela noite. Sempre acreditara num amor diferente daquilo que via, ouvia ou do que as amigas sonhavam. Acreditava, desde pequena, em companheirismo, cumplicidade e, agora, também em prazer mútuo. Nada de contos de fadas.
A sensação que tivera momentos antes a faziam pensar em um paraíso que jamais sonhara. Não lembrava de quanto tempo fazia desde a última vez que sentiu aquilo, se é que já sentiu algum dia. A saliva dele estivera umedecendo o interior de suas coxas e subindo pelo seu corpo na mesma proporção que o calor dentro dela. Os lábios dele eram macios como ela nunca tinha sentido antes. O toque suave de sua boca e dedos a fazia ter vontade de congelar o tempo. Conforme ele movimentava sua vulva a vontade de sentir o quadril dele junto do dela aumentava. Sua pouca experiência era compensada pela dele e pela própria vontade de ter e dar prazer naquele momento.
domingo, 28 de fevereiro de 2010
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Mesmo que se adore cada momento, não se tem idéia do que isso pode significar para o outro.
ResponderExcluirSim, acontece das duas partes.
ResponderExcluirAté porque dificilmente as palavras traduzem corretamente os sentimentos. Esses sao pessoais, aquelas sao sociais.